"Liberdade não é a ausencia de compromissos, mas a capacidade de escolher sua tarefa"

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Pôneis Malditos! Rsrsrs













"O sucesso do comercial dos pôneis malditos da Nissan, que teve mais de 3,5 milhões de acessos na internet nos primeiros cinco dias da campanha, parece ter se traduzido em vendas. A Frontier, estrela do comercial, registrou recorde de vendas em agosto. Foram comercializadas 1.488 unidades, 110% mais que no mesmo mês em 2010. O comercial foi ao ar no dia 29 de julho, primeiro na internet e depois na TV". (fonte: Folha de S. Paulo)

Por que a publicidade fez tanto sucesso junto ao público brasileiro? Não há um único e derradeiro motivo, mas podemos especular baseados no entretenimento e na questão de como as imagens na mídia são recebidas e interpretadas. Nas nossas sociedades atuais, a veiculação de bichinhos graciosos e puros começou graças à genialidade de Walt Disney que criou um universo baseado em personagens próprios e em personagens criados a partir dos contos de fadas europeus. O que os caracterizava, trazendo uma assinatura estilística inconfundível do grupo Disney (filmes, TV, parques temáticos, brinquedos, publicidade em geral), era justamente essa fofura pueril, ingênua e inocente que marcou a geração pós-guerra dos Estados Unidos, do ocidente e até mesmo de países asiáticos (há parques Disney em Tóquio e Hong Kong e um está sendo construído em Xangai).

Mas essa hegemonia edulcorada do mundo Disney logo foi sendo quebrada pelos super-heróis publicados pela Marvel, onde havia mais violência e ação adulta, em histórias cercadas de mistérios, tramas e conchavos militares e políticos. Outra rachadura no muro cor-de-rosa foi a divulgação dos mangás pelo ocidente. Esses quadrinhos japoneses tinham aspectos históricos, mitológicos, de ação, de violência, lutas marciais e ... sexo, muito sexo, de todos os tipos e gostos. Mas uma importante vertente que criticou diretamente o mundo Disney foi a série Shrek (desenhos animados de 2001, 2004, 2007 e 2010). Produzida pela Dreamworks, os ogros e bichos pouco tinham de ternura ou gostosura. Eram irascíveis, falastrões, sujos e relaxados. E faziam sexo, muito sexo (não explícito, por suposto).

Claro que os personagens puros e castos de Walt Disney perderam um pouco de território, mas mantiveram seu império e a Disney diversificou seus filmes, serviços e produtos. Há mercado para todos os gostos e demandas, ainda mais no mundo super-segmentado dos quadrinhos, dos games e dos filmes e brinquedos para crianças, adolescentes e adultos.

Mas enfim, qual é segredo do sucesso dos pôneis malditos? Ninguém sabe direito, nem os marqueteiros e os midiáticos, mas podemos elucubrar algumas teorias.

Imagine que o mundo institucional ou corporativo seja uma imensa cocheira. Isso mesmo, a sua empresa, a sua área profissional, a sua instituição como uma vasta cavalariça. Você consegue vislumbrar a imensa variedade equina (por analogia, apenas, claro) disponível? Identifiquemos alguns exemplares:

Há os cavalos de raça, imponentes, fogosos e cheios de si. Alguns são pangarés disfarçados, mas muitos são puro-sangue mesmo.

Há os burros de carga, que levam o trabalho bruto nas costas.

Há os cavalos baio, não muito bons para equitação, e também os cavalos zaino, muito espertos e bem dispostos para tudo.

Há os mangalarga, os pampeiros e os frísios, que contribuem decididamente para o bom andamento dos trabalhos e do ambiente profissional e social mais saudáveis, graças ao seu gênio e simplicidade.

Há os cavalos selvagens, trotando perdidos pelos pastos, aguardando a hora da domesticação ou de saírem definitivamente da cocheira à qual nunca se acostumarão.

Há os asnos, indefectíveis em qualquer lugar, às vezes até com altos títulos e cargos, mas que contribuem decididamente para o atraso do espaço onde estão.

Há as zebras (são da família equídea), uma mistura alegre e pouco ortodoxa que se esparrama pelas savanas empresariais, fugindo assustadas - ou fascinadas - dos leões e outros predadores.

Entre zurros, coices e relinchos dessa bela estrebaria institucional ou corporativa, há também os pôneis. Para que servem essas criaturas? No mundo real, dos cavalos, são uma raça desenvolvida para a criança brincar. No imaginário infantil das histórias, desenhos e cantigas, são a fofurinha, doce e singela ao antigo estilo Disney, que aparecem com musiquinha de fundo, letras alegres e bobas, cores vivas e até dá para sentir o perfume floral dos bichinhos exalando das imagens.

Outro dia escrevi no Facebook que os pôneis malditos me lembravam algumas pessoas. Muita gente curtiu e houve comentários concordando. Tudo bem, mas a quem nos remete as imagens desses animaizinhos tão dóceis, mas que nos deixam atolados? Justamente àquelas pessoas aparentemente tão amáveis, doces, cordatas, até mesmo singelas e puras, mas que nos prejudicam por não ajudar em nada, pelo contrário, por atrapalhar nossos projetos, falhando justamente nos momentos críticos do trabalho. Apareceu lama e barro - que nojinho! - ninguém sai do lugar. Lembrou de alguém que se assemelha à essa descrição? Nesse caso, os pôneis malditos são piores que os cavalos selvagens ou os simplesmente chucros, pois destes se espera muita coisa mas podemos canalizar sua energia e força para trabalhos produtivos. Porém os pôneis nos enganam com a sua tibieza pretensamente positiva. São nefastos, pois com suas boas intenções distorcidas detonam a eficácia e a eficiência do serviço.

Talvez seja por isso que a publicidade da Nissan acertou o alvo e tornou-se viral pela rede mundial de computadores, fez sucesso na TV e alavancou as vendas dos carros. O inconsciente coletivo identificou esses espécimes que se esgueiram pelo imaginário tentando enganar os incautos com suas atitudes pueris e inúteis.

E você, já fez o mapa zoológico do seu nicho ecológico?

Para cantar a letra da música: "Pônei maldito, pônei maldito, venha com a gente atolar! Odeio barro, odeio lama, que nojinho, não vou sair do lugar"!

Serviço: A peça publicitária é criação da Lew Lara\TBWA. Max Geraldo e Cesar Herszkowicz são os criadores e a direção de criação é de Jaques Lewkowicz, Manir Fadel e Mariana Sá. A produtora é a Corporação Fantástica, com direção de cena de Marlon Klug e a trilha da Satélite Áudio.

*Luiz Gonzaga Gogoi Trigo é turismólogo, escritor, pesquisador e professor Titular da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.

Veja este vídeo no YouTube:

http://www.youtube.com/watch?v=X3yGSJE53kU&feature=youtube_gdata_player


Claudia Lins
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