"Liberdade não é a ausencia de compromissos, mas a capacidade de escolher sua tarefa"

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Dor nas juntas...

 
 
 Dor nas juntas
A artrite reumatóide é uma doença crônica de causa desconhecida e se caracteriza por inflamação persistente nas articulações, causando grande incômodo. Descubra como diagnosticá-la e as formas de tratamento disponíveis

POR ROSE MERCATELLI
Algumas vezes, ela chega de forma branda: uma dor incômoda nas juntas das mãos e uma certa rigidez ao levantar de manhã. Em outras, de cara, a dor intensa nas articulações vem acompanhada de vermelhidão nos locais afetados e restrição de movimentos. Os sinais indicativos do distúrbio variam tanto em quantidade e intensidade que, não raro, ele pode ser confundido com outras enfermidades. Trata-se da artrite reumatóide (AR), uma doença crônica auto-imune (ou seja, aquela na qual, por razões desconhecidas, o sistema de defesa do indivíduo começa a produzir substâncias que se voltam contra seu próprio corpo, como se determinadas estruturas fossem um inimigo a ser destruído).
Sua principal característica é a inflamação nas articulações, em especial dos dedos das mãos e dos pés, embora outros órgãos ou tecidos como pele, coração, pulmão e olhos também possam ser atingidos.
A AR é um distúrbio relativamente comum e chega a atingir de 1 a 1,5% da população. Suas vítimas preferidas são as mulheres - na proporção de três para um homem - em geral na faixa etária entre 25 a 50 anos.
A medicina ainda não sabe ao certo quais são suas causas. Porém, os especialistas afirmam que existe uma predisposição genética para a doença, tanto que certos genes ligados a ela já foram identificados. Entretanto, a hereditariedade por si só não desencadeia o problema. É necessário também que estejam presentes vários fatores ambientais ou estímulos externos, que ainda não foram mapeados pela ciência, para que se desenvolva o quadro. Um desses fatores pode ser uma infecção microbiana aguda ou crônica que, segundo os pesquisadores, muitas vezes é o gatilho que desencadeia o mal.

Excesso de líquidos
Na artrite reumatóide, células do sistema de defesa (ou imune) proliferam na membrana sinovial que reveste a articulação. Esta, para se defender do ataque, começa a produzir substâncias inflamatórias. Dessa forma, o tecido sinovial local prolifera, cresce e começa a então a invadir as outras estruturas e a produzir mais inflamação.

Por conta de todo esse processo, ocorre um excesso de líquidos na região, ocasionando inchaço. Ao mesmo tempo, aumenta também a circulação sanguínea na articulação, que fica quente e avermelhada. As células inflamatórias presentes ali continuam a liberar mais e mais enzimas, causando dores, irritação e aumento de líquido dentro da articulação.
Se a situação persistir sem controle durante muitos anos, as substâncias produzidas por todo esse processo inflamatório acabam por deteriorar completamente cartilagens, ossos, tendões e ligamentos que fazem parte das articulações provocando lesões e deformidades irreversíveis.
Mas nem sempre os primeiros sintomas da doença são dor e inchaço nas juntas. Alguns pacientes freqüentemente se queixam de sinais semelhantes aos de gripe, com dores musculares e fadiga. Essa situação pode persistir por um bom tempo, sem que a verdadeira causa seja descoberta.
Porém o seu principal sintoma continua sendo a dor nas articulações. Primeiro ela aparece nos dedos das mãos, punhos, cotovelos, ombros, quadris, tornozelos e dedos dos pés. Em geral, o incômodo começa em uma ou duas articulações e depois atinge outras.
 
 
Critérios de investigação"O diagnóstico da artrite reumatóide é eminentemente clínico", fala o reumatologista Roberto Heymann, assistente doutor da disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O exame físico vai permitir, então, que o médico observe quais juntas estão inflamadas e doloridas, se a doença já está instalada no organismo, a quantas anda o processo inflamatório e o edema nas articulações e se existem deformidades nas articulações ou nódulos reumatóides presentes. Como os sinais são muitos e também variados, nos Estados Unidos o American College of Rheumatology, estabeleceu determinados critérios para facilitar a investigação da presença ou não da terrível doença. Um paciente que apresente quatro dos itens descritos a seguir pode ser considerado um portador de artrite reumatóide.

É PRECISO FICAR ALERTA
Dor nas articulações (nos dedos das mãos, punhos, cotovelos...) é a principal queixa em um quadro de artrite reumatóide.
Muitos doentes relatam também rigidez matinal nas juntas, o que dificulta a mobilidade. Esta rigidez, aliás, é a característica típica da artrite. Em geral, ocorre após um período de descanso, podendo perdurar por muitas horas.
Para diversos pacientes, a dor e a rigidez são tão intensas que impedem as atividades normais do dia-a-dia.
É comum ter dificuldade para dormir por causa desse estado doloroso.
As temperaturas mais baixas não alteram de maneira significativa o quadro, embora alguns portadores de AR se queixem de aumento de sensibilidade nos dias mais frios.
Nos dedos das mãos, as juntas mais afetadas são as mais próximas da base. Quando a mão inteira é tomada pela artrite, em geral, aparece um desvio dos dedos para fora. Nos casos mais avançados, pode haver alterações e atrofias musculares devido à posição anômala das articulações.
Se a doença está avançada e não teve tratamento adequado pode aparecer a deformidade das juntas afetadas. Em geral, os dois lados do corpo são atingidos, porém nem sempre os prejuízos são iguais para os dois lados. Muitas vezes, para os destros, o lado direito pode ser o mais prejudicado e vice-versa.
Cerca de 20% dos pacientes apresentam nódulos abaixo da pele com tamanhos que variam de uma ervilha a uma bolinha de gude. Estes são causados por uma inflamação localizada, que surge e desaparece durante o curso da doença. Eles tendem a ocorrer em pessoas com quadros mais severos de artrite e com fator reumatóide positivo.
 
 
 
Fique atento a esses sinais:
• Rigidez articular matinal com duração de uma hora ou mais.

• Edema (inchaço) localizado em três ou mais articulações.
• Edema das articulações interfalangianas (ou seja, nos dedos das mãos), das metacarpofalangianas (do dorso das mãos e dos dedos e/ou punhos).
• Presença de nódulos subcutâneos.
• Fator reumatóide positivo no exame específico de sangue.
• Erosões articulares ou ao redor das articulações com diminuição da densidade óssea, nas mãos ou pulsos, observadas em exames radiológicos.


O médico também pode solicitar testes de laboratório para avaliar o grau de inflamação. Eles são chamados provas de atividade inflamatória. Os mais utilizados são: velocidade de hemossedimentação (VHS) e dosagem da proteína C reativa (PCR).
Cerca de 80% dos pacientes com artrite reumatóide tem uma proteína circulando em seu sangue chamada de Fator Reumatóide. A presença dela ajuda o especialista a fazer o diagnóstico. Quanto maior for a sua quantidade no sangue, mais intensa é a doença. Porém, é importante saber que a ausência desse fator no exame sangüíneo não elimina a possibilidade de o diagnóstico ser positivo.
Em geral, os tratamentos são longos e o paciente deve ser informado sobre as probabilidades de a doença evoluir, ainda que esteja tomando remédios apropriados. O médico também não deve perder de vista os aspectos psicológicos do paciente, que têm sua importância tanto na evolução da doença como no surgimento de crises agudas.
Procedimentos indicados
"O objetivo do tratamento de AR é aliviar a dor, evitar a evolução da doença, minimizar o aparecimento de seqüelas ou deformidades e manter a qualidade de vida do indivíduo", afirma o médico Roberto Heymann.

Para aliviar os sintomas são usados antiinflamatórios não esteróides, como o ácido acetilsalicílico, ibuprofeno, diclofenaco e outros. Porém, depois de um período prolongado de uso, esses medicamentos podem apresentar efeitos colaterais como irritação gastrointestinal, reações dermatológicas, aumento do tempo de coagulação sangüínea, problemas de fígado e comprometimento da função renal.
Nos casos em que os antiinflamatórios não atuam de forma eficaz, principalmente nas crises agudas, o especialista pode optar pelos corticóides. Contudo, sua utilização deve ser indicada com bastante critério. Afinal, esses medicamentos costumam apresentar alguns efeitos colaterais indesejáveis a médio e longo prazo.
 
O REUMATOLOGISTA É O PROFISSIONAL INDICADO PARA CONDUZIR O TRATAMENTO, SEJA ELE MEDICAMENTOSO OU FISIOTERÁPICO

Outra classe de medicamento usada no tratamento é a que modifica o curso da doença. Porém os resultados costumam aparecer somente depois de semanas ou meses. Enquanto isso, os antiinflamatórios continuam sendo ministrados. Entram nesse grupo os compostos de ouro (aurotioglicose e aurotiomalato), antimaláricos (hidroxicloroquina e difosfato de cloroquina), sulfassalazina, methotrexate, leflunomide e outros agentes (azatioprina).

Novas drogas estão surgindo para evitar a progressão da enfermidade, principalmente os casos que não respondem bem a nenhum dos remédios citados. "Estes medicamentos biológicos atuam bloqueando uma proteína inflamatória denominada Fator de Necrose Tumoral (FNT)", avisa o médico Roberto Heymann. E o melhor: têm ação rápida na maioria dos casos.

Quando as juntas já perderam mobilidade e foram severamente afetadas, no entanto, a indicação pode ser a cirurgia para corrigir as deformidades e melhorar a função articular. Em algumas situações, há a colocação de próteses, nos joelhos, por exemplo, em substituição às estruturas, como ossos, cartilagens e ligamentos lesadas pelo processo inflamatório.

Exercícios adequados
É bom lembrar também que, durante o tratamento, a reabilitação e a terapia ocupacional são importantes para diminuir as seqüelas e manter as funções das articulações do doente. A fisioterapia pode ir desde o uso de uma tala simples para poupar a junta dolorida de um dedo até exercícios específicos para melhorar o tônus muscular. Segundo os especialistas, caminhar e nadar são atividades adequadas desde que não forcem as juntas.

A tradicional medicina chinesa também pode auxiliar. Por meio da acupuntura, por exemplo, é possível controlar alguns sintomas da AR. "Essa terapia propicia bons resultados no alívio da dor e até na interrupção do avanço da doença", informa o médico Arnaldo Marques Filho, coordenador do Ambulatório de Acupuntura do Hospital São Camilo, em São Paulo.

E lembre-se: ao mínimo sinal de um possível quadro de artrite reumatóide, o caminho mais curto para o alívio das dores e a prevenção das deformidades é o do consultório de um reumatologista, o profissional indicado para conduzir o tratamento, seja ele medicamentoso ou fisioterápico.