Mulheres trocam praia por laje e usam fita isolante para marquinha de biquíni.
Cerca de 30 mulheres se queimam lado a lado na laje de Érika Bronze.
Dermatologistas alertam para riscos de excesso de exposição ao sol.
O sol brilhava forte em Realengo, Zona Oeste do Rio, por volta das 10h de quinta-feira (10). Entre ruelas espremidas, a equipe de reportagem G1 parou o carro em frente a uma barbearia quando o GPS não localizava a Rua 10. "É na Erika Bronze? Faz a volta porque é logo ali atrás", apontou um morador. A vizinhança parecia habituada a indicar o caminho da laje, que virou notícia por atrair mulheres para colocar em dia a marquinha de biquíni de forma atípica: com o uso de fita isolante no lugar do biquíni.
Erika Romero Martins, a Érika Bronze, tem 34 anos, é esteticista e empresária. Teve a ideia de ganhar dinheiro com bronzeado quando, aos 15 anos, suas primas e amigas a invejavam pela habilidade em conseguir uma indefectível marca de biquíni, com ajuda de um esparadrapo. Começou na Vila Aliança, mas foi em Realengo, mais distante das comunidades, que viu seu negócio prosperar. Depois de viralizar nas redes sociais e ser entrevistada por jornais e sites, como o "Extra" e a "Piauí", teve a clientela dominada por mulheres que moram perto da praia e até de fora do Rio.
"O sol da Zona Oeste é um sol pra cada um. Ano passado eu faturei uns R$ 80 mil no verão. Esse ano quero chegar em R$ 100 mil. Vem muita gente de fora. Minas Gerais, Espírito Santo e aqui no Rio a maioria é da Zona Sul e da Barra. As pessoas que moram perto da praia são as que mais aparecem", conta.
A sessão custa R$ 70, no dinheiro ou no cartão. Depois da terceira, a manutenção cai para R$ 50. "A fita isolante eu monto uma por uma, tem medida cortadinha. Levo de 5 a 10 minutos montando o biquíni de fita. Quando é trans [transexual] demora mais."
Érika acorda às 5h e começa a trabalhar às 6h, quando enfileira as esteiras na laje e corta tiras dos mais de 50 rolos de fita isolante que vão virar biquínis ao longo do dia. Explica que o bronzeamento começa às 9h e termina antes do meio-dia. Prefere o sol da manhã, para evitar a grande incidência dos raios ultravioleta, nocivos para pele. "Não faz mal como o da tarde", diz.
Alerta de dermatologistas
Dermatologistas alertam, no entanto, que a grande exposição ao sol é nociva mesmo pela manhã. Mesmo com o uso de protetor solar, aumenta-se o risco de câncer pele, além de acelerar o processo de envelhecimento.
“Ainda que seja um sol de manhã, ele tem uma atuação negativa sobre a pele em termos de fotoenvelhecimento. Então, 90% do envelhecimento evitável vem da exposição ao sol de uma vida toda. Uma exposição como essa, sem limite, ela não condiz com todos os estudos atuais. Ainda mais que o câncer de pele é o que tem a maior incidência no Brasil e está relacionado a essa exposição ao sol contínua e intensa. Isso pode provocar, além de envelhecimento precoce, manchas, melasmas, aumento de sardas e o risco aumentado de flacidez, porque o sol não só envelhece, mas também deixa a pele mais apergaminhada”, explica a dermatologista Juliana Neiva.
O tom de pele também é importante para definir o tempo de exposição ao sol, segundo especialistas.
“Se ela é mais morena, ela tem mais resistência. A princípio três horas de sol em um dia, exposto diretamente ao sol, é muita coisa. Exposição ao sol aliado a uma pratica esportiva é melhor. Essa exposição de três horas, se for durante muitos dias, é prejudicial. Tem que ter cuidado com esse objetivo estético. Pessoa mais claras, precisam de menos exposição. Me parece um assunto mais complexo do que uma receita de bolo. O mais indicado é meia hora ou uma hora de sol por dia, antes das 10h e depois das 16h, para proteger de câncer de pele e envelhecimento”, explica o dermatologista Celso Sodré.
Érika Bronze argumenta que o tempo de exposição é controlado e que as mulheres usam protetor solar e ficam bem hidratadas.
“Aqui é melhor que na praia, porque elas ficam o tempo certinho expostas ao sol (...) A menina chega, monta o biquíni, passa o protetor, depois passa o produto que bronzeia e fica no sol. Ao todo, uma hora e meia de frente e uma hora e meia de costas. Depois de tudo, é possível fazer uma hidratação profunda, o banho de lua [para descolorir os pelos] e acabou”, explica.
Funkeira é cliente
Com uma agenda lotada, a esteticista atende cerca de 30 mulheres, todos os dias, inclusive com tempo nublado. “A autoestima aumenta muito, elas ficam agradecidas, renova o casamento. As pessoas estão fugindo dos arrastões e, por isso, acho que a laje tá bombando desse jeito.”
Frequentadora há três meses, a funkeira Tati Quebra Barraco, de 37 anos, mora na Taquara e conta que pega um mototáxi para conseguir chegar em 10 minutos na laje.
“Praia é só pra tomar água de coco, comer um peixinho, tomar uma cerveja. Bronze e marquinha tem que ser aqui. A fita isolante é o máximo. Tudo fica melhor depois da marquinha, até na hora de namorar é bem melhor. Não pode ficar o dia todo no sol ou vamos virar carvão. Eu estou aqui toda semana, no verão vai bombar, acho que vai dar confusão. Eu quero estar aqui, vou chegar umas 5h! Aqui é babado e gritaria, é conhecer o prazer”, diz.
Para não dizer que homens não têm vez na laje, cabe a Claudiano da Silva, de 20 anos, uma tarefa fundamental: borrifar água enquanto as mulheres ficam sob o sol. O apelido veio rápido: bombeiro.
“Eu molho elas de cinco em cinco minutos para não esquentar as queimaduras e ajudo a dar água. Costumo dizer que elas são as flores do meu jardim. Eu passo bastante protetor, no rosto, no ombro e na canela. Muitas dizem que ficam com a autoestima elevada, que os maridos gostam bastante. Minha missão é encher a bomba na bica, regular a pressão e atender quando elas gritam: ‘chama o bombeiro’”, brinca.
Lívia Torres
Do G1 Rio
Cerca de 30 mulheres se queimam lado a lado na laje de Érika Bronze.
Dermatologistas alertam para riscos de excesso de exposição ao sol.
O sol brilhava forte em Realengo, Zona Oeste do Rio, por volta das 10h de quinta-feira (10). Entre ruelas espremidas, a equipe de reportagem G1 parou o carro em frente a uma barbearia quando o GPS não localizava a Rua 10. "É na Erika Bronze? Faz a volta porque é logo ali atrás", apontou um morador. A vizinhança parecia habituada a indicar o caminho da laje, que virou notícia por atrair mulheres para colocar em dia a marquinha de biquíni de forma atípica: com o uso de fita isolante no lugar do biquíni.
Erika Romero Martins, a Érika Bronze, tem 34 anos, é esteticista e empresária. Teve a ideia de ganhar dinheiro com bronzeado quando, aos 15 anos, suas primas e amigas a invejavam pela habilidade em conseguir uma indefectível marca de biquíni, com ajuda de um esparadrapo. Começou na Vila Aliança, mas foi em Realengo, mais distante das comunidades, que viu seu negócio prosperar. Depois de viralizar nas redes sociais e ser entrevistada por jornais e sites, como o "Extra" e a "Piauí", teve a clientela dominada por mulheres que moram perto da praia e até de fora do Rio.
"O sol da Zona Oeste é um sol pra cada um. Ano passado eu faturei uns R$ 80 mil no verão. Esse ano quero chegar em R$ 100 mil. Vem muita gente de fora. Minas Gerais, Espírito Santo e aqui no Rio a maioria é da Zona Sul e da Barra. As pessoas que moram perto da praia são as que mais aparecem", conta.
A sessão custa R$ 70, no dinheiro ou no cartão. Depois da terceira, a manutenção cai para R$ 50. "A fita isolante eu monto uma por uma, tem medida cortadinha. Levo de 5 a 10 minutos montando o biquíni de fita. Quando é trans [transexual] demora mais."
Érika acorda às 5h e começa a trabalhar às 6h, quando enfileira as esteiras na laje e corta tiras dos mais de 50 rolos de fita isolante que vão virar biquínis ao longo do dia. Explica que o bronzeamento começa às 9h e termina antes do meio-dia. Prefere o sol da manhã, para evitar a grande incidência dos raios ultravioleta, nocivos para pele. "Não faz mal como o da tarde", diz.
Alerta de dermatologistas
Dermatologistas alertam, no entanto, que a grande exposição ao sol é nociva mesmo pela manhã. Mesmo com o uso de protetor solar, aumenta-se o risco de câncer pele, além de acelerar o processo de envelhecimento.
“Ainda que seja um sol de manhã, ele tem uma atuação negativa sobre a pele em termos de fotoenvelhecimento. Então, 90% do envelhecimento evitável vem da exposição ao sol de uma vida toda. Uma exposição como essa, sem limite, ela não condiz com todos os estudos atuais. Ainda mais que o câncer de pele é o que tem a maior incidência no Brasil e está relacionado a essa exposição ao sol contínua e intensa. Isso pode provocar, além de envelhecimento precoce, manchas, melasmas, aumento de sardas e o risco aumentado de flacidez, porque o sol não só envelhece, mas também deixa a pele mais apergaminhada”, explica a dermatologista Juliana Neiva.
O tom de pele também é importante para definir o tempo de exposição ao sol, segundo especialistas.
“Se ela é mais morena, ela tem mais resistência. A princípio três horas de sol em um dia, exposto diretamente ao sol, é muita coisa. Exposição ao sol aliado a uma pratica esportiva é melhor. Essa exposição de três horas, se for durante muitos dias, é prejudicial. Tem que ter cuidado com esse objetivo estético. Pessoa mais claras, precisam de menos exposição. Me parece um assunto mais complexo do que uma receita de bolo. O mais indicado é meia hora ou uma hora de sol por dia, antes das 10h e depois das 16h, para proteger de câncer de pele e envelhecimento”, explica o dermatologista Celso Sodré.
Érika Bronze argumenta que o tempo de exposição é controlado e que as mulheres usam protetor solar e ficam bem hidratadas.
“Aqui é melhor que na praia, porque elas ficam o tempo certinho expostas ao sol (...) A menina chega, monta o biquíni, passa o protetor, depois passa o produto que bronzeia e fica no sol. Ao todo, uma hora e meia de frente e uma hora e meia de costas. Depois de tudo, é possível fazer uma hidratação profunda, o banho de lua [para descolorir os pelos] e acabou”, explica.
Funkeira é cliente
Com uma agenda lotada, a esteticista atende cerca de 30 mulheres, todos os dias, inclusive com tempo nublado. “A autoestima aumenta muito, elas ficam agradecidas, renova o casamento. As pessoas estão fugindo dos arrastões e, por isso, acho que a laje tá bombando desse jeito.”
Frequentadora há três meses, a funkeira Tati Quebra Barraco, de 37 anos, mora na Taquara e conta que pega um mototáxi para conseguir chegar em 10 minutos na laje.
“Praia é só pra tomar água de coco, comer um peixinho, tomar uma cerveja. Bronze e marquinha tem que ser aqui. A fita isolante é o máximo. Tudo fica melhor depois da marquinha, até na hora de namorar é bem melhor. Não pode ficar o dia todo no sol ou vamos virar carvão. Eu estou aqui toda semana, no verão vai bombar, acho que vai dar confusão. Eu quero estar aqui, vou chegar umas 5h! Aqui é babado e gritaria, é conhecer o prazer”, diz.
Para não dizer que homens não têm vez na laje, cabe a Claudiano da Silva, de 20 anos, uma tarefa fundamental: borrifar água enquanto as mulheres ficam sob o sol. O apelido veio rápido: bombeiro.
“Eu molho elas de cinco em cinco minutos para não esquentar as queimaduras e ajudo a dar água. Costumo dizer que elas são as flores do meu jardim. Eu passo bastante protetor, no rosto, no ombro e na canela. Muitas dizem que ficam com a autoestima elevada, que os maridos gostam bastante. Minha missão é encher a bomba na bica, regular a pressão e atender quando elas gritam: ‘chama o bombeiro’”, brinca.
Lívia Torres
Do G1 Rio